terça-feira, 13 maio,2025
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Como aplicar os 3 pilares do ESG na hotelaria (e o que você ganha com isso)

A sigla se popularizou bastante nos últimos anos, tanto que provavelmente você também a conhece: ESG. Só que ela nem é uma sigla em português, sabia? Trata-se de um acrônimo para “Environmental”, “Social” e “Governance” – ou, para nós, “Ambiental”, “Social” e “Governança”. Juntas, essas palavras representam um conjunto de práticas, ancoradas nesses três pilares, que ajudam a avaliar uma empresa além das métricas financeiras tradicionais. Atualmente, é obrigação levar a sério o ESG na hotelaria; afinal, essa é uma exigência que vem do próprio consumidor.

Segundo estudo realizado pela Booking.com em 2023, 74% dos entrevistados gostariam que as empresas de turismo disponibilizassem opções de viagens mais sustentáveis, enquanto 65% alegaram que se sentiriam mais confortáveis se se hospedassem em locais com certificações verdes. O principal entrave costuma ser o preço, percebido como mais elevado em empreendimentos ecologicamente corretos. Considerando que o levantamento conversou com mais de 33 mil pessoas, é gente pra caramba repensando a forma de viajar e, consequentemente, de gastar dinheiro com viagens.

Falar sobre ESG na hotelaria não significa focar exclusivamente em sustentabilidade – não se confunda, o “S” da sigla é de “Social”. Nosso ponto aqui é mostrar que é preciso adaptar os modelos de negócio em vários aspectos, inclusive no aspecto ambiental, para que eles estejam em sintonia com as mudanças no comportamento do consumidor. Quem não fizer isso vai nadar contra a corrente e eventualmente perder relevância no mercado.

Um breve panorama sobre ESG na hotelaria

A fim de compreender a fundo a importância do ESG na hotelaria, é uma boa ideia começar este post destrinchando o principal objetivo por trás de cada letra do acrônimo.

  • Environmental (Ambiental): analisa o tipo de impacto que a operação do hotel gera no meio ambiente, abrangendo do consumo de energia e água à gestão de resíduos, preservação da fauna e flora regionais e até mesmo a adoção de tecnologias que contribuam para a redução da pegada ecológica;
  • Social: foca na maneira como o hotel se relaciona com colaboradores, fornecedores, clientes, acionistas e com a comunidade na qual está inserido;
  • Governance (Governança): examina a gestão do hotel, avaliando estrutura administrativa, políticas internas, cumprimento de leis e normas e sua aderência (ou não) à ética e à transparência na condução do negócio.

Para que o ESG na hotelaria seja uma realidade, é necessário ter uma baita visão geral sobre a operação do empreendimento, pois é esse panorama que vai permitir identificar pontos de melhoria nas três áreas e criar um plano de ação realista. Se você não sabe muito bem por onde começar, não tem problema. Vamos citar a seguir alguns exemplos de ações celebradas pelo público e que trazem bom retorno para o hotel – sobretudo retorno financeiro.

Dá para estabelecer objetivos a curto, médio e longo prazos, mas lembre-se: as ações propostas devem sair do papel e ser implementadas com cuidado e estratégia, incorporando-se de fato à cultura do hotel. Decisões impulsivas e isoladas, que não têm continuidade e não fazem parte de nenhum contexto maior, não só não fazem sentido, como servem apenas para arranhar a marca do hotel. Veja, a ideia não é “surfar na onda” do ESG na hotelaria; é construir negócios genuinamente mais sustentáveis, sólidos e alinhados às expectativas do mercado e dos clientes.

ESG na hotelaria: melhores práticas

1. Environmental (Ambiental)

Amenizar o impacto ambiental causado pela operação dos hotéis é um dos principais objetivos do ESG na hotelaria. E a melhor parte é que pequenas ações fazem uma diferença enorme | Crédito: Freepik
Amenizar o impacto ambiental causado pela operação dos hotéis é um dos principais objetivos do ESG na hotelaria. E a melhor parte é que pequenas ações fazem uma diferença enorme | Crédito: Freepik

Conforme relatório de 2019 divulgado pelo Urban Land Institute Hotel Sustainability, os hotéis estão entre os edifícios comerciais que mais consomem eletricidade e água por metro quadrado. Não é à toa que, hoje, grande parte deles tente conscientizar os hóspedes quanto à quantidade de água necessária para trocar as toalhas e a roupa de cama diariamente. A princípio essa pode parecer uma iniciativa pequena e de baixo impacto, mas, acredite, não é: o hotel poupa água, energia, produtos de limpeza e mão de obra, além de essa decisão prolongar a vida útil dos enxovais, que sofrem desgastes a cada lavagem.

Outras práticas que se encaixam muito bem na implantação do ESG na hotelaria são:

  • captar e reutilizar a água da chuva para irrigar jardins e áreas verdes, abastecer as descargas dos vasos sanitários, lavar áreas externas e manter o nível em espelhos d’água e fontes decorativas;
  • instalar redutores em chuveiros e torneiras;
  • aderir à iluminação com LED, que consome algo em torno de 85% menos energia em comparação às lâmpadas fluorescentes;
  • apostar em sensores de presença e em termostatos inteligentes, de modo que luzes e aparelhos de ar-condicionado consigam “perceber” se há alguém no cômodo e desliguem ou entrem em modo de economia de energia automaticamente quando o ambiente estiver vazio;
  • instalar painéis solares para gerar energia limpa e renovável;
  • priorizar equipamentos de ar-condicionado e outros eletrodomésticos que tenham selo de classificação A (ou superiores, como A+, A++ e A+++), o que sinaliza maior eficiência energética;
  • reduzir ao máximo a utilização de plásticos descartáveis, substituindo-os por materiais biodegradáveis, tais como canudos de bambu e copos de PLA (ácido polilático, obtido a partir do amido de milho e da cana-de-açúcar, por exemplo). No caso de amenities como shampoo, sabonete e hidratante, a dica é trocar o plástico por dispensers;
  • criar um sistema de compostagem para que resíduos orgânicos, como restos de comida, sejam utilizados nos jardins. Os alimentos excedentes podem (e devem!) ser doados – desde que estejam em boas condições e dentro da validade, é claro;
  • firmar parcerias com fornecedores que adotem boas práticas sustentáveis e que, preferencialmente, sejam da mesma região que o hotel, já que o fato de não ter que percorrer longas distâncias para a entrega dos produtos diminui a pegada de carbono;
  • utilizar produtos de limpeza que não agridam o meio ambiente ao escoarem pelos ralos;
  • escolher móveis fabricados com certificação florestal ou a partir de materiais reciclados;
  • garantir que os colaboradores estejam devidamente informados sobre as práticas de sustentabilidade em vigor e estimulá-los a abraçar a causa, contribuindo, assim, para o envolvimento dos hóspedes.

A lista é enorme, né? Pois tenha certeza de que há muito, muito mais a ser feito. Quando essas medidas se entrelaçam ao dia a dia e ao fluxo de negócios, seja durante a construção do empreendimento, seja durante um processo de retrofit, o hotel abre espaço para obter duas certificações ambientais internacionalmente reconhecidas. São elas: Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) e Excellence in Design for Greater Efficiencies (EDGE).

A boa notícia é que grande parte dessas práticas depende apenas de pequenas mudanças – as quais, somadas, fazem toda a diferença para quem quer aplicar o ESG na hotelaria de forma consistente e efetiva.

2. Social

Estimular um ambiente de trabalho que seja saudável e diverso não só traz resultados positivos para o hotel, como também integra a relação das melhores práticas do ESG na hotelaria | Crédito: Freepik
Estimular um ambiente de trabalho que seja saudável e diverso não só traz resultados positivos para o hotel, como também integra a relação das melhores práticas do ESG na hotelaria | Crédito: Freepik

Como você talvez tenha adivinhado por aí, a dimensão social do ESG diz respeito às relações humanas. Basicamente, chama a atenção para a forma como as pessoas são impactadas pela atuação de uma empresa, dos funcionários e clientes aos fornecedores, acionistas e à comunidade que fica em seu entorno.

Dar a devida importância às pessoas que participam, de um jeito ou de outro, da complexa operação de um hotel faz bem aos negócios. E a gente tem como provar: de acordo com uma pesquisa da Universidade de Oxford, profissionais felizes e de bem com a vida são 13% mais produtivos do que os demais.

No entanto, contar com um time engajado e animado requer investir em boas condições de trabalho, o que implica em salários justos, carga horária adequada, respeito aos direitos trabalhistas e bons pacotes de benefícios. Porém, essa é só a ponta do iceberg – no bom e velho português, é o mínimo. Desenvolver o pilar “Social” no ESG na hotelaria demanda uma porção de outras atitudes:

  • fomentar a diversidade, a equidade e a inclusão em todos os níveis hierárquicos;
  • promover um ambiente de trabalho saudável e seguro;
  • estimular a ascensão interna, por meio da realização regular de treinamentos e mentorias que visem ao desenvolvimento profissional;
  • zelar verdadeiramente pela satisfação e o bem-estar dos hóspedes, prezando por um atendimento respeitoso ao longo de toda a jornada do cliente, compartilhando informações importantes com transparência e clareza (como políticas de cancelamento) e tratando seus dados de forma responsável;
  • assegurar que as instalações sejam acessíveis e seguras para pessoas com deficiência;
  • adotar protocolos rigorosos de segurança para hóspedes e funcionários;
  • construir um relacionamento positivo com a comunidade, como desenvolver projetos sociais, fornecer apoio a ONGs, dar preferência à contratação de profissionais e fornecedores locais, incentivar os funcionários a participarem de programas voluntários e promover o turismo responsável, valorizando a cultura e o patrimônio da região;
  • fechar acordos comerciais com fornecedores de boa reputação, certificando-se de que os valores sociais entre as duas partes estejam alinhados. Dica de ouro: verificação minuciosa da cadeia de suprimentos para garantir a ausência de trabalho infantil ou condições análogas à escravidão em nenhuma etapa.

Quanto mais nós nos debruçamos sobre o “S” do ESG na hotelaria, mais percebemos que o simples “saber lidar com pessoas” se tornou um diferencial competitivo. Em outras palavras, é assim que empresas comuns se transformam em marcas admiradas e duradouras.

3. Governance (Governança)

Ter uma governança bem estruturada é o primeiro passo para garantir uma gestão alicerçada na ética e na transparência, características essenciais para a implementação do ESG na hotelaria | Crédito: Freepik
Ter uma governança bem estruturada é o primeiro passo para garantir uma gestão alicerçada na ética e na transparência, características essenciais para a implementação do ESG na hotelaria | Crédito: Freepik

No âmbito de governança, o que está em foco é a gestão interna do hotel. Para começar, é papel desse time assegurar que o empreendimento segue à risca todas as leis, regulamentos e normas que regem o setor – o famoso compliance –, das regulamentações ambientais às normas trabalhistas. Pode-se dizer que, sob a ótica do ESG na hotelaria, o “G” é o alicerce de tudo, já que tem como objetivo garantir que o hotel esteja fazendo tudo certinho em cada uma das três vertentes.

Confira a seguir uma versão resumida das atividades que contemplam o guarda-chuva de governança:

  • criar estruturas e processos fundamentados na lisura, na ética e na equidade (ou seja, proporcionando oportunidades iguais a todos os envolvidos). Parte disso envolve desenvolver e divulgar internamente um código de conduta;
  • implementar práticas de combate à corrupção;
  • instaurar canais de denúncia que sejam seguros e confidenciais;
  • prezar pela honestidade e precisão nos relatórios financeiros, o que aumenta o valor do hotel no mercado e fortalece sua credibilidade perante os investidores;
  • incorporar metas de sustentabilidade e responsabilidade social no planejamento estratégico, estabelecendo critérios e indicadores de desempenho e monitorando regularmente seu progresso. É crucial comunicar abertamente aos stakeholders quais foram os resultados, assim como levar seu feedback em consideração ao ajustar ações e estratégias voltadas ao ESG na hotelaria;
  • realizar auditorias internas e externas regulares.

Quando a governança corporativa está em harmonia com os princípios do ESG na hotelaria, o hotel toma decisões mais éticas e inteligentes, constrói uma reputação robusta, conquista a confiança do mercado e abre caminho para um futuro próspero e sustentável – e sustentável em todos os sentidos.

Sendo assim, não fique só no discurso: render-se às boas práticas do ESG na hotelaria é uma necessidade real para quem busca por eficiência, inovação e competitividade. O que você tem feito por aí neste sentido? Compartilhe nos comentários!

Bruna Dinardi
Author: Bruna Dinardi

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