*Artigo assinado por Hubber Clemente, hoteleiro com 25 anos de experiência, fundador e CEO da AFROTURISMO HUB, conselheiro do Quilombo Aéreo, colunista e palestrante engajado com os temas diversidade e inclusão no turismo*
Já que a maioria da população brasileira – 56,7%, segundo dados de 2024 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE – se autodeclara racialmente negra (conjunto de pessoas pardas e pretas), é vital que haja a promoção da inclusão, da diversidade e da equidade racial na hotelaria e em outros setores. Essa é a única forma de as empresas serem verdadeiramente diversas e inclusivas.
Atualmente é possível observar grandes movimentos com este foco no universo corporativo, destacando-se o Pacto de Promoção da Equidade Racial e o Movimento pela Equidade Racial (Mover). A hotelaria ainda está na fase inicial de conscientização acerca da importância do tema e precisa adotar medidas concretas, e com certa urgência, para não ir na contramão das transformações que estão em curso.
Mas, afinal, como alcançar a equidade racial na hotelaria?

O primeiro passo é incluir a pauta de equidade racial na hotelaria nos principais eventos do setor, sobretudo por meio da realização de palestras e debates que gerem reflexão, conhecimento e, consequentemente, ação. Existe a máxima de que o principal ativo da hotelaria são as pessoas; porém, listo aqui algumas perguntas: como estão as pessoas negras que trabalham no setor? Onde elas estão? Quais cargos ocupam? Estão felizes? Almejam fazer carreira e ascender a posições de liderança?
De acordo com o portal de dados da Embratur, mais especificamente no campo “Emprego no Turismo”, os profissionais negros correspondem a 50,07% dos trabalhadores da hotelaria brasileira, dos quais 37,43% são pardos e 12,64% são pretos. O que chama a atenção é que, ainda que o seu nível de escolaridade seja muito próximo ao apresentado pelos profissionais não negros, pardos e pretos são contratados ganhando, em média, 15% menos.

Esses dados mostram que dificilmente essas pessoas são selecionadas para cargos de gestão média, gerência-geral ou alta gestão. Pelo contrário: tendem a ser priorizadas para cargos de base ou iniciais. A maioria dos recrutadores pode argumentar que não contrata por cor ou raça e sim por qualificação e formação. No entanto, se tudo continuar como está, a desigualdade racial corre sério risco de se acentuar ainda mais.
Para os gestores de associações, redes hoteleiras e meios de hospedagem que desejam reverter este cenário, sugiro começar por investimentos financeiros em palestras e em ações de conscientização que levantem a bandeira da equidade racial na hotelaria. Esses investimentos, inclusive, estão conectados com o “S” da sigla “ESG” (que não é de “Solidariedade”, mas de “Social”, ou, melhor ainda, “Impacto Social”) e devem envolver consultorias especializadas, é claro, mas consultorias de profissionais negros, preferencialmente do setor de turismo, a fim de gerar representatividade e pertencimento.
Sim, essa será uma tarefa desafiadora, pois o problema do racismo consciente ou inconsciente no Brasil é enorme: infelizmente grande parte da população admite que ele existe, mas nega que cometa ou que seja cúmplice do mesmo.
A hotelaria nacional já se mostrou capaz de realizar grandes mudanças. Nossa hospitalidade é, reconhecidamente, uma das melhores do mundo. Capacidade temos de sobra; entretanto, será que existe a vontade genuína em promover a inclusão, a diversidade e a equidade racial na hotelaria e em demais atividades cruciais para a economia? Eu desejo que sim e me coloco à disposição profissionalmente para colaborar com o que for preciso.