Atualmente, pelo menos quatro em cada cinco pessoas valorizam as empresas pautadas pela agenda ESG, ou seja, aquelas cuja gestão de negócio seja marcada pelo equilíbrio entre fatores ambientais, sociais e de governança. À medida que a consciência ambiental, principalmente, cresce, a hotelaria se reinventa. E o sourcing sustentável ajuda a corresponder às expectativas dos hóspedes neste sentido.
Sourcing nada mais é do que o processo de avaliar e selecionar fornecedores. Portanto, uma das muitas formas de se tornar ecologicamente correto é somando forças com quem também tem a sustentabilidade como prioridade. Afinal, dos alimentos que compõem a mesa de café da manhã aos tecidos das roupas de cama e aos produtos de limpeza utilizados, cada escolha importa, por menor que ela possa parecer.
Sourcing sustentável: o que levar em conta ao escolher os fornecedores?
1. Avalie a origem da matéria-prima
Para a implementação de um sourcing sustentável de verdade, alguns critérios fundamentais devem permear o processo de definição dos fornecedores. Um deles é a obrigatoriedade de saber a origem das matérias-primas. Seria extremamente contraditório o hotel ter a meta de se tornar mais verde e associar sua marca a um parceiro comercial que use madeiras de desmatamento ilegal ou couro legítimo, por exemplo. Sendo assim, quanto mais naturais forem os materiais utilizados, melhor.
No que se refere a roupas de cama e enxovais em geral, um bom ponto de partida é procurar por fornecedores que trabalhem com algodão orgânico. Isso porque seu cultivo não depende do uso de agrotóxicos e pesticidas, evitando a contaminação do solo. Além disso, por ser livre de produtos químicos, trata-se de um produto hipoalergênico e com uma textura mais macia, o que acaba adicionando uma camada extra de conforto ao hóspede.
Já para mobília, utensílios e objetos de decoração, por que não investir em empresas que apostam no bambu? Este é um material altamente sustentável por inúmeros motivos. Para começar, as plantações de bambu absorvem grandes quantidades de dióxido de carbono e liberam mais oxigênio do que outras florestas, o que contribui para a redução do efeito estufa. Outros diferenciais envolvem seu crescimento rápido, muito mais acelerado do que a madeira tradicional – um trunfo enorme no combate ao desmatamento, aliás –, e sua resistência natural a pragas, eliminando a necessidade de produtos químicos em seu plantio.
2. Descubra como é feita a gestão de resíduos

Parte do objetivo de um processo de sourcing sustentável é descobrir como os potenciais fornecedores lidam com resíduos. Os aterros sanitários, embora sejam largamente utilizados para este fim, liberam quantidades altíssimas de metano, gás com capacidade de aquecimento maior do que o dióxido de carbono e, por isso mesmo, diretamente relacionado às mudanças climáticas e ao efeito estufa. E essa é só a pontinha do iceberg, viu? Os aterros acentuam a degradação ambiental, uma vez que o acúmulo de lixo pode levar séculos para se decompor e ainda contaminar lençóis freáticos com a produção de um líquido poluente poderoso, o chorume.
Diante desse cenário, fornecedores que têm programas de reciclagem se sobressaem. A coleta seletiva de lixo conta muitos pontos, é claro, mas é a preferência pelo uso de materiais recicláveis que faz a diferença. Com isso, toneladas de plástico, vidro, metais e tecidos são reaproveitadas e deixam de ir para os aterros – e lá se tornariam inutilizáveis, demandando a extração de matéria-prima virgem para a fabricação de novos produtos.
Ah, e um lembrete do bem: parceiros comerciais que não se incomodam ou não se preocupam com o impacto ambiental trazido pela utilização de plásticos de uso único (caso de garrafas, copos, canudos e embalagens de comida) provavelmente não configuram como boas escolhas para um sourcing sustentável, OK? A fabricação do plástico depende da extração do petróleo, cuja queima é uma das campeãs mundiais em emissão de poluentes. E vamos combinar que não faz mais sentido não aderir ao plástico reciclado, que pode ser utilizado até mesmo na fabricação de móveis.
3. Como é o consumo de água?
Por ser um recurso finito e, portanto, com risco de escassez, a água já é chamada de “ouro azul” no mercado financeiro. O consumo indevido por parte da população e o despejo inadequado do esgoto, que inevitavelmente conduz à poluição de lagos e rios, são problemas graves, os quais se tornam ainda mais pronunciados ao considerar o uso exacerbado na produção industrial e nas atividades agropecuárias.
Logo, firmar parcerias comerciais com empresas que usem a água de modo responsável deve ser um ponto de atenção no fluxo de sourcing sustentável. Por exemplo, um hotel que queira renovar suas roupas de cama e de banho pode priorizar fornecedores que sejam adeptos do tingimento natural, que utiliza pigmentos extraídos de plantas, minerais e frutas para colorir tecidos como algodão, linho, lã e seda. Além de serem biodegradáveis e de os corantes naturais resultarem em cores exclusivas, o consumo de água demandado no processo é extremamente menor.
O paisagismo é outro setor que se beneficia do consumo hídrico. Hoje, existem sistemas inteligentes de irrigação, que adaptam a quantidade de água às condições climáticas, bem como a técnica de irrigação por gotejamento, que molha diretamente as raízes das plantas para que não haja desperdícios. Isso sem mencionar a possibilidade de os hotéis investirem em plantas resistentes à seca em suas áreas internas e externas, como suculentas, babosas, lavandas e orquídeas, entre outras.
Torneiras e chuveiros equipados com sensores de movimento e reguladores de fluxo, incentivos ao reuso da chamada “água cinza” nas descargas e tecnologias que detectam vazamentos e sinalizam quando o uso é excessivo são mais alguns exemplos que denotam se o fornecedor se enquadra nos critérios de sourcing sustentável ou não.
4. Exija certificações ambientais e sociais

Quando se trata de sustentabilidade, um dos jeitos mais eficientes de saber se o discurso condiz com a prática é exigir que o fornecedor apresente certificações ambientais e sociais. Tenha em mente que, tão importante quanto compartilhar a mesma preocupação ambiental, é preciso escolher parceiros comerciais que atuem com ética em todos os processos, inclusive no trato com os funcionários. Isso agrega ainda mais valor ao sourcing sustentável.
Para ajudar, listamos abaixo algumas certificações que vale a pena deixar no radar:
- Fair Trade: garante a adoção de práticas comerciais éticas, preços justos e condições de trabalho decentes;
- ISO 14001: norma internacional que elenca os requisitos que uma empresa deve seguir para implantar um sistema de gestão ambiental. Redução do consumo de recursos naturais e gestão eficiente de resíduos, ambos citados aqui neste post, e foco em reduzir a pegada de carbono figuram entre as boas práticas difundidas;
- LEED (Leadership in Energy and Environmental Design): selo que reconhece edifícios verdadeiramente sustentáveis. Utilizado em mais de 160 países, estabelece as diretrizes para a construção de projetos saudáveis, eficientes e econômicos. Eficiência hídrica, qualidade do ambiente interno, inovação, materiais e recursos utilizados são alguns dos pontos levados em consideração;
- Rainforest Alliance: certificação que atesta que as empresas aderiram às melhores práticas ambientais e sociais. De acordo com a definição que consta no próprio site, o selo é dado às fazendas que “usam menos pesticida, combatem as mudanças climáticas e tratam os trabalhadores de forma justa, enquanto atendem a uma série de outros requisitos projetados por especialistas para criar um mundo melhor”.
Valorizar a estratégia de sourcing sustentável não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para garantir que a hotelaria evolua de forma responsável e alinhada às expectativas dos hóspedes. Como você enxerga os desafios e vantagens dessa prática no dia a dia do setor? Use o espaço de comentários para compartilhar sua opinião!