Quantos anos você tem? A pergunta é simples, mas respondê-la nem sempre é tão fácil quanto parece. Em 2021, um dado alarmante foi divulgado em um relatório da Organização das Nações Unidas: uma em cada duas pessoas – ou seja, metade da população mundial – usa a idade como motivação para discriminação. No universo corporativo essa questão pode ser ainda mais traiçoeira, determinando quem avança ou não em uma entrevista de emprego e alimentando o chamado etarismo. Diante disso, falar sobre gestão de pessoas na hotelaria não é só importante; é indispensável.
Na prática, ter gerações distintas convivendo em um mesmo ambiente pode ser um desafio e tanto. Um profissional na casa dos 20 anos, que estreou há pouco tempo a carteira de trabalho, pode ter dificuldades para entender o modo de agir ou o jeito de pensar de alguém de mais de 60 (e vice-versa). E dá para julgar? Sua visão de mundo, seus hábitos e sua bagagem cultural são totalmente diferentes – e isso pode ser excepcional para os negócios.
5 gerações, um mercado de trabalho: onde entra a gestão de pessoas na hotelaria?
Para prosperar, a hotelaria depende de pitadas generosas de empatia, comunicação e espírito de equipe. Aliás, quanto mais melhor. Mas adivinhe só? Essa tríade é muito mais frequente em times em que ninguém se sente diminuído, negligenciado ou deixado para trás. Enquanto uns agregam experiência, senso de compromisso e visão estratégica, outros contribuem com novas ideias, energia e uma destreza extraordinária para a tecnologia.
Em vista da concorrência acirrada e dos níveis de exigência cada vez mais altos dos hóspedes, dá para dizer que alguma dessas características é mais relevante que outra? Não, né? É o equilíbrio entre elas que faz tudo funcionar.
O segredo está em compreender o que move profissionais de diferentes gerações no trabalho, pois só assim é possível extrair o que há de melhor em cada um deles. Esse, inclusive, é o intuito deste post: elencar as principais características de cada grupo e comprovar que todo mundo, sem exceção, pode fazer a diferença em uma empresa.
1. Baby boomers: experiência e compromisso como bússola

Os baby boomers nasceram entre o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e meados da década de 1960. Esse foi um período marcado pelo aumento da taxa de natalidade, daí o surgimento da expressão “baby boom”. Sabia dessa?
Em geral, são profissionais éticos e dedicados, que valorizam o trabalho, a família, a lealdade e a estabilidade financeira. Seu foco à empresa, que anda de mãos dadas com os cobiçados “vestir a camisa” e “ter atitude de dono”, geralmente culmina em cargos de liderança ou posições estratégicas. O trabalho é visto como parte de sua identidade.
Sua faixa etária, atualmente entre 60 e 80 anos, é uma prova de que eles viram o mundo se curvar diante de acontecimentos que fariam história: cresceram com a televisão revolucionando o consumo de notícias e entretenimento, viram o homem pisar na lua pela primeira vez, testemunharam o surgimento dos Beatles e do Pink Floyd e participaram de movimentos de contracultura, só para citar alguns exemplos.
Quem atua com gestão de pessoas na hotelaria tem a missão de conciliar a mentalidade mais tradicional dos boomers com a agilidade e o “pensar fora da caixa” característicos dos profissionais mais novos. Substituir esses trabalhadores levando em consideração somente a idade é abrir mão de décadas de experiência – profissional e de vida –, um trunfo que pode ser tão enriquecedor quanto decisivo em várias circunstâncias. Portanto, vale a pena transformá-los em mentores, disponibilizando espaço e reconhecimento para que compartilhem seu know-how e incentivando a construção de equipes mais integradas e inclusivas.
2. Geração X: pragmatismo e adaptabilidade na medida certa

Mais ou menos na metade da década de 1960 foi a vez da geração X dar as caras, estendendo-se até o começo dos anos 1980. A TV já não era mais a única novidade: videocassetes e computadores pessoais começavam a pipocar nos lares, o que fez das pessoas nascidas nessa época pioneiras no contato com a tecnologia. De quebra, essa galera viu a internet nascer em 1969 (embora ainda estivesse muito longe de ser o que conhecemos hoje), assistiu de camarote à consolidação das mulheres no mercado de trabalho e acompanhou a lenta transição da economia industrial para a economia da informação.
A grandiosidade de tais eventos forjou profissionais altamente resilientes, reconhecidos principalmente pela sua independência, pelo forte senso de responsabilidade e pelo talento para ser multitarefa. São pessoas que valorizam a estabilidade e não fogem de desafios, mas que prezam pela existência de um equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, algo que não era uma prioridade para os baby boomers.
Para quem está à frente da gestão de pessoas na hotelaria, cabe ressaltar que os X têm um potencial enorme para cargos de liderança, já que conversam muito bem com colaboradores de outras faixas etárias. Afinal, cresceram sob a influência dos métodos “clássicos” dos boomers e viram chegar de mansinho a tecnologia que acabaria moldando a era dos millennials e da geração Z. Pode-se dizer que eles são como uma ponte que conecta universos essencialmente diferentes – não é à toa que a adaptabilidade seja uma de suas marcas registradas. Esse olhar diferenciado reduz ruídos entre as gerações no trabalho e favorece a construção de equipes harmônicas e produtivas.
Como preferem estruturas claras e valorizam entregas consistentes, profissionais da geração X respondem satisfatoriamente a rotinas organizadas e a objetivos bem definidos. Quando entendem exatamente o que se espera deles, e sobretudo quando têm autonomia e flexibilidade para realizar suas atividades, tendem a performar com ainda mais segurança.
3. Geração Y (millennials): tecnologia, propósito e colaboração

“Nativos digitais”. É assim que os millennials são chamados por terem nascido em algum momento entre a metade das décadas de 1980 e 1990, uma época tremendamente impactada pela tecnologia. Quem tinha computador em casa muito provavelmente acessou a célebre internet discada e presenciou o alcance inimaginável da web.
À medida que a geração Y entrava na adolescência, os celulares também evoluíram: aos poucos foram perdendo o ar de “tijolão” e ganhando outras formas, menores e mais finas. Ao contrário de seus pais, muitos tiveram videogames, TV a cabo e uma série de outras conveniências. Eram a globalização e a inovação acelerando, o que mudaria permanentemente sua visão de mundo.
Se, por um lado, o fato de alternarem com naturalidade entre o on e o off sinalize familiaridade com a tecnologia, por outro a hiperconectividade, a comparação social (acentuada pelo uso de redes sociais) e as altas expectativas fizeram dessa uma geração ansiosa e habituada a um ritmo constantemente frenético – um legado sentido também pela geração Z.
Ambiciosos, são os profissionais que costumam desafiar processos engessados, colocam pautas novas na mesa e propõem soluções criativas para velhos problemas. É também uma geração que sabe navegar entre diferentes linguagens, estilos e tecnologias, tornando o ambiente mais dinâmico e a integração entre gerações no trabalho mais propícia.
No que tange à gestão de pessoas na hotelaria, um detalhe crucial: os millennials podem se frustrar com estruturas excessivamente rígidas, falta de reconhecimento ou lentidão nos processos. Eles apreciam feedbacks regulares, oportunidades claras de desenvolvimento e a chance de contribuir com sugestões que realmente possam ser implementadas. Enérgica, curiosa e disposta a testar novos caminhos, é uma geração que não tem medo de mudar de emprego – especialmente se a nova empresa for ambientalmente correta e verdadeiramente preocupada com diversidade étnica e de gênero.
4. Geração Z: autonomia, agilidade e zero paciência para burocracia

Quem aí tinha que esperar até depois da meia-noite para navegar na web (por ser muito mais barato) ou se lembra com carinho daquele som que o computador emitia sempre que tentava se conectar à internet discada? Pois a geração Z não faz ideia do que seja nada disso. Nascidos mais para o fim da década de 1990 (há quem diga 1995, há quem diga 1997), para eles wi-fi não é comodidade: é infraestrutura básica, quase no mesmo nível que água encanada e eletricidade.
Eles vieram ao mundo já com a tela na mão: celular, tablet, redes sociais, a consolidação do streaming… Como consequência, se tornaram adultos dinâmicos, visuais, informados e imediatistas – e não por não terem paciência de esperar, mas por terem crescido em uma era em que (quase) tudo acontece em tempo real.
São profissionais que aprendem rápido, dominam ferramentas digitais, são abertos a mudanças e têm um quê de idealistas, com um foco menor em ganhar dinheiro e maior em qualidade de vida. Não é por acaso que costumam ser engajados em pautas ambientais e sociais. Ao mesmo tempo, gostam de experimentar, testar, errar, ajustar e tentar de novo. Por isso, são fãs de feedbacks honestos e de líderes (não chefes!), que incentivem o aprimoramento de suas habilidades sem medo de cometerem deslizes aqui e ali. Almejam propósito, pertencimento, equilíbrio, estabilidade e saúde mental – simultaneamente.
Quanto à gestão de pessoas na hotelaria, interessa saber que a geração Z representa um oxigênio importantíssimo, podendo assumir projetos que exijam inovação, tecnologia e agilidade. É fácil de entender o motivo, né? Os hotéis lidam com hóspedes cada vez mais digitais – e os jovens “Zers” têm facilidade extra para aprender tudo o que envolve automações, redes sociais e reviews online. Com o suporte de boomers, X e millennials, conseguem amadurecer rapidamente e contribuir para a integração de gerações no trabalho.
5. Geração Alpha: tecnologia e identidade nascem juntas

Ainda não tinha ouvido falar nesse nome? Conheça, então, a geração que começou em 2010 – um ano antes de a Netflix chegar ao Brasil – e que é genuinamente futurista se comparada à realidade da geração silenciosa (de 1923 a 1946, aproximadamente). São crianças e adolescentes que conheceram o mundo sob a ótica da inteligência artificial e de experiências digitais imersivas: usam assistentes virtuais para tudo e desde sempre, são mestres da comunicação multimídia e enxergam a tecnologia como uma extensão natural do próprio raciocínio.
Para eles a IA não é um luxo ou uma evolução surpreendente; é uma amiga próxima que acentua sua autonomia. Isso faz ainda mais sentido quando paramos para pensar que os pais dos Alphas são os millennials e os representantes da geração Z.
Atualmente os Alphas mais velhos estão com 15 anos, jovens demais para ingressarem no mercado de trabalho (exceto para vagas de Jovem Aprendiz). Porém, em pouco tempo estarão batendo à porta das empresas, prontos para colocar sua versatilidade, inventividade, agilidade e curiosidade aguçada em prática e para desbravar novos horizontes, sempre com o auxílio da tecnologia. É provável que valorizem ambientes mais flexíveis e conscientes, experiências personalizadas e espaços onde possam criar, testar e experimentar – e não somente reproduzir.
Diversidade geracional: de desafio a diferencial competitivo
Lidar com diferentes gerações no trabalho não envolve doutrinar ninguém ou forçar pessoas a adotarem comportamentos que não são seus. Não tem nada a ver com isso, na verdade. As diferenças sempre vão existir, seja em pessoas da mesma idade ou em faixas etárias distantes umas das outras. Sendo assim, o papel da gestão de pessoas na hotelaria é orquestrar essas diferenças com inteligência e respeito, construindo uma cultura organizacional que converse com todos. “Quase” todos não tem, nem de longe, o mesmo impacto.
Se esse assunto faz seus olhos brilharem, fica aqui a sugestão de assistir ao curso gratuito “A visão de head hunter sobre desafios no mercado de trabalho hoteleiro”, da Escola para Resultados. Nem todas as capacitações da instituição são grátis, mas tem desconto de 30% esperando por você na maioria – desde, é claro, que você já seja assinante do Portal do Hoteleiro.
Para encerrar, adoraríamos saber qual é a sua opinião sobre tudo isso! As equipes multigeracionais são, de fato, uma vantagem competitiva? Você acha que a gestão de equipes na hotelaria tem dado a esse tema a importância que ele precisa e merece? Deixe um comentário!









