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Wi-fi na hotelaria: o desafio de transformar sinal em satisfação

*Artigo assinado por Renato Pardo, consultor especializado em gestão de redes para hotéis e à frente do departamento de negócios da Net4Guest, empresa parceira do Programa Retrofit Tecnológico de Hotéis*

No início dos anos 2000, escutei de um líder de provedor de rádio da cidade de Atibaia (SP), chamado Edinilson, a seguinte frase: “wi-fi é ingrato!”. De fato ele tinha razão – e ainda tem. Afinal, estamos em 2025 e o wi-fi continua sendo “ingrato”. Mas, para entendermos isso melhor, é preciso fazer uma retrospectiva.

A evolução do wi-fi ao longo do tempo

A foto mostra um homem de meia-idade, Renato Pardo, sorrindo para a câmera. Ele tem barba e bigode grisalhos e usa óculos de sol. Veste um moletom azul escuro com zíper no pescoço. O fundo da imagem é um porto, com palmeiras e barcos à vela, sob um céu azul com nuvens brancas.
Renato Pardo, profissional que lidera a Net4Guest, assina este artigo exclusivo sobre os desafios da internet wi-fi | Crédito: Divulgação

Como muitos já devem ter ouvido, o wi-fi é conhecido como wi-fi 1,2,3… indo até o 7, numeração correspondente às chamadas gerações do wi-fi.

As primeiras delas seguem padrões da Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE). O padrão 802.11 nasceu de um embate entre os padrões “A” e “B”, ambos com taxa de transferência de 11 Mbps, com o wi-fi 1 (802.11a) trafegando em 5 GHz e o wi-fi 2 (802.11b) em 2,4 GHz. Considerando que o wi-fi 2 apresentava um custo de produção menor, ele se fez presente na grande maioria dos computadores, relegando o wi-fi 1 ao anonimato. Infelizmente este cenário se perpetuou e permeia até hoje, algo que costumo designar de “herança 2,4”. E, para mim, esta não foi uma decisão acertada.

Após esse embate entre wi-fi 1 e 2 surgiu o wi-fi 3 (802.11g), que se apresentou como um novo padrão com até 54 Mbps e se destacou por ser compatível com o padrão “B”, estabelecendo, assim, que as gerações seguintes preservassem a “compatibilidade” com o wi-fi 3.

Contudo, além da baixa frequência, a tecnologia wi-fi 3 apresenta como desvantagem a limitação a apenas 11 canais de transmissão. Para obter uma comunicação sem ruídos, por via de regra são utilizados apenas três canais – 1, 6 e 11 –, já que eles evitam interferências ao manterem uma distância segura entre a comunicação de um equipamento e outro, conforme demonstra a imagem abaixo:

Crédito: Reprodução/Medium

É possível exemplificar o cenário acima por meio do ajuste de um rádio no seletor analógico. Visualize o seguinte: você sintoniza a rádio 100,1 FM. Se deixar no 100,2, percebe um chiado; no 100,3 o som já começa a se mesclar ao de outra rádio.

Wi-fi 4 e 5: promessas, limitações e aprendizados

Em 2009 surgiu o wi-fi 4 no padrão 802.11n, que foi uma geração muito confusa. Isso porque, em vez de apresentar as duas frequências (2,4 GHz e 5 GHz) para ter condições de chegar aos 600 Mbps propostos incialmente, milhares de dispositivos foram fabricados no padrão “N” apenas com a frequência 2,4 GHz. Assim, apesar de garantirem 300 Mbps, na prática essa velocidade era quase inalcançável. Muitas TVs, de diversas marcas e ativas no mercado até hoje, têm o chip de wi-fi 4, mas somente com a frequência 2,4 GHz.

A meu ver, isso acontece porque o preço é o principal critério na hora de adquirir TVs para a hotelaria. “Compre uma TV barata, pois serão muitas para o hotel todo. E tem que ser SmartTV!”. É muito comum que essa decisão seja tomada antes de se consultar um engenheiro ou técnico que entenda o funcionamento da tecnologia do equipamento. Consequentemente, grande parte dos televisores em uso nos meios de hospedagem tem o chip de wi-fi 4, o qual, embora tenha competência para trafegar mais dados que o wi-fi 3 (visto que permite uma taxa de transferência de dados maior), na realidade se restringe à frequência 2,4 GHz.

Eis que surge o wi-fi 5 em 2013, exibindo uma tecnologia muito boa e diminuindo significativamente a diferença técnica entre os equipamentos intermediários e os de primeira linha, apesar de manter compatibilidade com as bandas anteriores de 2,4 GHz, ocasionando outros problemas.

O que se viu foram equipamentos com potência de sinal ligeiramente inferior ao wi-fi 4, principalmente os conhecidos “long range”, que pegavam aquele cantinho escondido de um quarto de hotel grande ou aquele banheiro cheio de espelhos. Por outro lado, entregavam qualidade superior para usuários conectados em 5 GHz.

Além disso, a popularização dos smartphones trouxe para as redes wi-fi um volume gigantesco de dispositivos – muitas vezes com o sinal bem fraco. Este fato fez com que diversos hotéis passassem a colocar mais equipamentos do que o previsto no projeto inicial, às vezes até dobrando a quantidade de access points. No entanto, como todos vinham com frequência 2,4 GHz, o ambiente de rede acabou ficando poluído, com equipamentos demais operando na mesma frequência.

A imagem abaixo exemplifica como se apresentariam as redes 2,4 GHz:

A imagem é um diagrama que ilustra o planejamento de canais para redes wi-fi na frequência de 2,4 GHz. A figura mostra um arranjo de círculos sobrepostos. Cada círculo representa a área de cobertura de um ponto de acesso wi-fi, e está colorido com uma das três cores: verde, amarelo ou azul, que correspondem aos canais 1, 6 e 11, respectivamente.
Crédito: Reprodução/Medium

E, a seguir, você vê uma imagem de como elas ficam efetivamente:

A imagem é um padrão repetitivo de círculos sobrepostos, coloridos em verde, amarelo e azul. Cada círculo contém um dos números 1, 6 ou 11, representando canais de wi-fi. O arranjo mostra como os canais não sobrepostos (1, 6 e 11) podem ser distribuídos para cobrir uma área maior, minimizando a interferência.
Crédito: Reprodução/Imagem concedida por Renato Pardo

O que derruba a qualidade da internet sem fio na hotelaria?

Somando-se a esse universo de ondas de wi-fi existem ainda os obstáculos do próprio edifício, como concreto, espelhos e estruturas metálicas, que por si só criam uma barreira natural para o sinal. É quase como ter uma perua escolar com 12 crianças, cada uma com o celular ligado em um áudio e com o agravante de o motorista (o “tio da perua”) ter que responder a todas as mensagens simultaneamente. Insano, né?

Já nas redes 5 GHz – tanto no wi-fi 5, quanto no wi-fi 6 –, que trabalham em uma frequência bem mais alta e podem disponibilizar até 24 canais (dependendo da largura de banda), houve uma diminuição significativa da possibilidade de interferências ou ruídos, proporcionando um ambiente “limpo”, com melhora na qualidade de conectividade.

Na imagem abaixo é possível observar os canais 2,4 GHz esgotados, brigando por espaço na banda, e os canais 5 GHz operando tranquilamente, “sem sofrer”:

A imagem é um gráfico de barras que compara a utilização de duas frequências de wi-fi: 2,4 GHz e 5 GHz. A barra superior, referente à frequência de 2,4 GHz (canal 1), está quase totalmente preenchida, mostrando uma utilização de 92% e um nível de ocupação classificado como "High" (alto). A barra inferior, referente à frequência de 5 GHz (canal 149), tem apenas uma pequena parte preenchida, com uma utilização de 12%, classificada como "Good" (boa).
Crédito: Reprodução/Imagem concedida por Renato Pardo

A partir deste cenário, costumo dizer que a relação entre o wi-fi 2,4 GHz e o 5 GHz, respeitadas as devidas proporções, é: imagine que você tem em casa um provedor de banda larga ADSL, daqueles antigos, trafegando sobre os fios de telefone par metálico, como o Speedy, da Telefônica, a uma velocidade de 8 Mbps. Daí você contrata uma tecnologia nova, um provedor de fibra de 600 Mbps. Porém, você não cancela o serviço antigo, optando por manter os dois juntos em redes diferentes, e no dia a dia opta por se conectar à rede antiga, mais lenta.

Neste caso, você pode se perguntar: “então posso desativar a rede 2,4 GHz e usar somente a 5 GHz?”. Em um hotel, pousada ou resort isso não é possível devido à necessidade de manter a compatibilidade com os milhares de dispositivos de usuários ainda em operação – aparelhos de televisão, celulares, videogames, laptops etc. – e sem dispor de chips 5 GHz, limitando seu acesso. Para se ter uma ideia, quase 40% dos acessos em hotéis ainda são em frequência 2,4 GHz.

É preciso sempre considerar o ambiente no qual o estabelecimento está inserido: empreendimentos que ficam em espaços mais isolados, sem muitos vizinhos por perto, como matas ou bairros com baixa ocupação, tendem a enfrentar menos ruídos externos. Por outro lado, regiões como a da Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, densamente habitadas e com a presença de muitos sinais, são bastante desafiadoras para projetos de redes wi-fi na hotelaria. O sucesso consiste em associar equipamentos específicos para serem instalados dentro dos quartos – e que sejam muito bem configurados, de modo a não exagerar na potência e causar outros prejuízos à rede.

Fica, portanto, a questão: “devemos ir direto para o wi-fi 7?”. A resposta é: depende.

Wi-fi 7: ter ou não ter?

A foto mostra uma mão segurando um pedaço de papel cinza. No centro do papel, há um ícone de wi-fi recortado, revelando a luz brilhante de fundo. O fundo é desfocado, com luzes coloridas de uma cidade à noite, criando um efeito de bokeh.
Nem sempre optar pelo wi-fi 7 é a melhor solução para os problemas de conectividade, especialmente se o hotel não tiver a infraestrutura adequada | Crédito: Freepik

O wi-fi 7 terá sua performance adequada se os links de internet forem superiores a 1 Gbps e desde que o cabeamento ou fibras óticas tenham capacidade entre 2,5 Gbps e 10 Gbps. Caso contrário, você estaria adquirindo um access point de wi-fi 7 com portas LAN de 2,5 Gbps, que se limitaria automaticamente a um switch de 1 Gbps. Ou seja: não haveria ganho de performance em rede local. Fora isso, cabe ressaltar que usuários, hóspedes ou clientes com recursos de wi-fi 7 em seus dispositivos são minoria. Sendo assim, apesar do investimento, o impacto acabará atingindo um público ainda muito pequeno.

Antes de comprar um equipamento de wi-fi 7, minha recomendação é primeiro avaliar se a infraestrutura está pronta – link, cabeamento e switches devem ser compatíveis com a tecnologia e com a necessidade do estabelecimento. Outro ponto que não se pode deixar de notar é que diversos fabricantes estão liberando versões de equipamentos de wi-fi 7 lite sem a banda de 6 GHz. Essa limitação, além de não trazer uma inovação relevante da tecnologia, pode, no futuro, gerar frustração pela falta dessa frequência.

Dessa forma, se o objetivo for preservar o investimento e assegurar ao máximo sua vida útil, mesmo diante de todas as inovações tecnológicas, é preciso definir o que realmente é necessário para a operação nesse momento, uma vez que a escolha pode trazer custos altíssimos. Dependendo do cenário, pode ser mais apropriado garantir um bom wi-fi 6 do que um wi-fi 7 incompleto. Para migrar para o wi-fi 7, minha dica é: vá olhando para o futuro sem economizar em versão lite e evite uma herança que possa trazer algum arrependimento.

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Este artigo supercompleto do Renato Pardo é só uma prévia de o que te espera no episódio “Infraestrutura tecnológica ideal para conexão hoteleira à internet”, um dos destaques do videocast do Portal do Hoteleiro. O executivo e especialista em gestão de Tecnologia da Informação para o setor de hospitalidade concedeu uma entrevista exclusiva para nós, na qual mencionou que, hoje, os hotéis não se diferenciam apenas por “uma boa cama, um bom chuveiro e um bom café da manhã”: o wi-fi também deve ser de qualidade e é decisivo para atrair e conquistar clientes. Não pode deixar de assistir, hein?

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Bruna Dinardi
Author: Bruna Dinardi