quarta-feira, 24 dezembro,2025
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Mudanças climáticas e turismo: Skål São Paulo promove debate sobre a COP30

*Artigo assinado por Gabriel Emidio, jornalista e colaborador da Agência AMIgo! Comunicação Integrada*

Mudanças climáticas são ocorrências a longo prazo nos padrões de temperatura e clima, impulsionadas principalmente pela ação humana, sobretudo pela queima de combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás. Diante desse cenário, é válido destacar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, informalmente chamada de COP da Amazônia e realizada entre 10 e 21/11/2025, em Belém do Pará (PA). A edição anterior se deu em 2024, em Baku, capital do Azerbaijão.

Com o propósito de repercutir diferentes aspectos abordados durante a COP30, a Skål Internacional São Paulo tomou a iniciativa de apresentar um webinar híbrido – presencial e virtual – na tarde de 10/12/2025, no Grand Mercure São Paulo Ibirapuera, na capital paulista. Foco: o impacto das mudanças climáticas nas atividades turísticas. Clique aqui para assistir à gravação e conferir o evento na íntegra.

Cabe ressaltar que a Skål Internacional é uma entidade fundada em 1934, em Paris, presente em mais de 80 países por meio de 297 clubes, com cerca de 12 mil membros em cinco continentes. Ou seja: há mais de 90 anos ela conecta, em todo o mundo, profissionais líderes no setor de viagens e turismo.

Já a Skål Internacional São Paulo foi o primeiro clube da instituição no Brasil, criado em 20/10/1955. Na ocasião, um grupo de empresários pioneiros fundou a Skål São Paulo, durante reunião no Hotel Jaraguá.

O evento no Grand Mercure Ibirapuera

Walter Teixeira, Jaqueline Gil e Aristides Cury posam para foto em frente a um banner do evento sobre a COP30.
Da esquerda para a direita: Walter Teixeira, presidente da Skål Brasil; Jaqueline Gil, CEO da Amplia Mundo; e Aristides Cury, presidente da Skål Internacional São Paulo | Crédito: Reprodução/Skål Brasil

A abertura do encontro coube ao presidente da Skål Internacional São Paulo, Aristides de La Plata Cury. “Skål, mundo afora, dedica-se a iniciativas nos moldes desta que aqui realizamos. O objetivo é reunir entes do setor privado, do poder público, acadêmicos e especialistas para debater temas contemporâneos de notória relevância para o impulsionamento sustentável do turismo”, observou Cury. O anfitrião Rodrigo Cavalcante, gerente-geral do Grand Mercure Ibirapuera e skålega, fez sua saudação de boas-vindas.

O evento teve curadoria e condução de Jaqueline Gil, doutoranda no Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB, CEO da Amplia Mundo e referência nacional em sustentabilidade aplicada ao turismo. Ela é reconhecida por articular evidências científicas, tendências globais e soluções práticas para destinos, empresas e governos.

Também marcaram presença o presidente da Skål Brasil, Walter Teixeira; apoiadores, convidados e os participantes das exposições e debates: Ana Biselli, CEO da Resorts Brasil; Ariane Mathne, gerente-geral do Hotel Tivoli Mofarrej Belém; David Schurmann, Voz dos Oceanos; Marcelo Pedroso, Relações Externas Brasil na IATA; Marina Figueiredo, presidente da Braztoa; Carlos Bernardo, diretor de Operações e A&B no Grupo Accor e vice-presidente da ABIH-SP; Mariane Bueno, Universidade de São Paulo (USP); Carolina Negri, presidente-executiva do SINDEPAT; Toni Sando, presidente da Unedestinos e do Visite São Paulo Convention Bureau; e Mônica Samia, secretária-executiva da Secretaria de Viagens e Turismo do Estado de São Paulo.

Jaqueline Gil

Jaqueline Gil, usando óculos, blazer branco e um colar vermelho, fala em um microfone ao conduzir o evento que promoveu o debate acerca das mudanças climáticas e seus impactos no turismo. À sua frente estão uma garrafa d'água e copos; ao fundo, um operador de câmera com equipamento.
Jaqueline Gil, um dos nomes mais potentes do país no que se refere à sustentabilidade aplicada ao turismo, foi a responsável por conduzir o evento | Crédito: Reprodução

Em formato de mesa-redonda, Jaqueline abriu sua exposição e condução do evento afirmando que “a COP, hoje, é a maior agenda de sustentabilidade do planeta. Não existe nenhum outro encontro com tamanha capacidade decisória e influência geopolítica em todo o mundo. Então, quando nós falamos desta relação homem-natureza-economia, é nas COPs que acontecem as decisões que mais impactam o presente e o futuro”. Ela acrescentou que a COP é uma marca distinta, nascida no Brasil no evento pioneiro de 1992, no Rio de Janeiro.

Jaqueline fez uma digressão rápida da história das COPs e ressaltou que os temas debatidos exibem mais e mais envergadura, extrapolando aquilo que diz respeito às questões de meio ambiente. Lembrou que há o compromisso estabelecido de que o mundo deverá ser carbono-neutro até 2050. “Isso é muito menos tempo do que nós tivemos de 1992 até hoje”, grifou.

Diferença de tom

Ao abordar a COP30, Jaqueline Gil comparou o ambiente formal da edição realizada em Baku com a atmosfera popular do encontro brasileiro. Nesse ponto, realçou a força cultural e participativa do Pará, mencionando a participação marcante de moradores, estudantes, lideranças comunitárias e turistas.

A especialista salientou que governança e financiamento são os pontos frágeis que precisam avançar. Segundo ela, a governança climática do turismo ainda inexiste de maneira estruturada. “O tema da governança ainda está em aberto – e é fácil tudo vazar pelo dedos”.

Sobre financiamento, sustentou que a disputa global por recursos e técnica é altamente competitiva: países e setores que chegam com projetos robustos, cálculos de custos e prioridades claras recebem mais. “Quem não chega preparado corre o risco de receber um total de zero”, disse.

O que é obrigatório para o Brasil

Tela dividida mostrando Jaqueline Gil à esquerda e, à direita, um slide sobre o Acordo de Paris no qual se pode ler as seguintes metas: "economia carbono-neutro até 2050" e "manter temperatura em 1,5°C até 2100".
Um dos temas abordados por Jaqueline Gil durante o evento foi a obrigatoriedade do Brasil de cumprir os termos do Acordo de Paris | Crédito: Reprodução

Jaqueline Gil assegurou que nosso país precisa cumprir os termos do Acordo de Paris, que é lei. Ou seja: reduzir as emissões de gases de efeito estufa. “Nesse quesito, o grande vilão está em todos os modais do setor de transportes. E na infraestrutura. Nossa meta é reduzir as emissões de 59% a 67% em relação a 2005 – isso até 2035, quando o Brasil precisa colocar as novas metas. Nesse contexto, temos de olhar para trás, resolver o presente e olhar para a frente”.

Plano de Adaptação do Turismo ao Clima

Os destinos turísticos brasileiros, em boa parte, estão mais e mais expostos a fenômenos extremos. Em locais vulneráveis (litoral e comunidades locais de base de subsistência), o turismo é um motor econômico essencial para o enfrentamento de opções limitadas.

“São localidades que estão muito menos protegidas do que as cidades de médio e grande portes, onde há uma infraestrutura mais resistente a chuvas, a enchentes, a fogo… porque dispõem de Corpo de Bombeiros, hospitais e demais recursos”, afirmou Jaqueline Gil. Ela mostrou mapas do território brasileiro do ponto de vista da taxa de risco – em matéria de água, seca e fogo – para os nossos destinos turísticos.

E destacou: “O Brasil é presidente da governança mundial do clima. Se nós perdemos a oportunidade de deixar nossa marca em Belém, temos o encontro de Brasília, em novembro de 2026. Portanto, há um tempo para melhorar nosso desempenho”. Ela ainda lembrou que foi sancionada a lei que estabelece as bases para um mercado regulado de carbono no Brasil e acrescentou a lei de incentivo à reciclagem, que segue as pegadas da Lei Rouanet – as empresas podem investir recursos que seriam pagos em impostos.

Manifestações e testemunhos sobre a COP30 e as mudanças climáticas

Toni Sando fala ao microfone, sentado entre Marina Figueiredo e Carolina Negri em uma mesa de debate durante o evento.
Toni Sando, à frente da Unedestinos e do Visite São Paulo, sentado entre Marina Figueiredo, presidente da Braztoa (à esquerda), e Carolina Negri, presidente-executiva do SINDEPAT | Crédito: Reprodução

Marina Figueiredo, presidente da Braztoa: “Infelizmente acho que perdemos inúmeras oportunidades na COP30. A decisão de receber o evento aconteceu em 2023 e, de lá pra cá, tivemos um bom tempo para acelerar muitas das agendas do turismo. Não houve nenhuma definição estratégica para a COP. A ‘green zone’, por exemplo, foi utilizada de forma muito ruim, dada a presença massiva de pessoas alheias às pautas específicas. Não que essa presença seja, em si, negativa, mas poderia ter sido planejada para ocorrer em espaço adequado. Discussões mais profundas não aconteceram. E a gente volta do evento do mesmo jeito que a gente foi”.

Toni Sando, presidente da Unedestinos e do Visite São Paulo Convention Bureau: “Roberto Campos sempre dizia que ‘o Brasil não perde oportunidade de perder oportunidades’. Então não é nenhuma surpresa pra gente o que aconteceu na COP30. Teve suas dificuldades, a COP não é do turismo… O turismo foi apenas uma das pautas relevantes. Como legado, foi ótima para Belém. Como legado, a Copa do Mundo foi ótima para Brasília. A COP30 foi ótima para os habitantes de Belém.

Mas eu acho que tem de vir à luz qual o impacto das atividades turísticas e o que a gente tem de fazer em sustentabilidade, baseado na situação que o mundo vive. O fato é que a gente fica esperando do Ministério do Turismo. E não é. Quem tem que fazer alguma coisa são os empresários. Algumas associações talvez devam identificar pontos relevantes que resultem em pautas. Pequenas ações e atitudes. Uso de carros elétricos, por exemplo. Mais que Marketing, conta muito mais o trabalho, a partir de cada cidadão, de conscientização”.

Mariane Bueno, Universidade de São Paulo (USP): “Nós temos, na USP, com financiamento do CNPq, um projeto sobre Mudanças Climáticas relacionado com turismo e gastronomia, nesse momento focado no açaí e no cacau. A gente sente falta de articulação entre turismo e mudanças climáticas, bem como no campo da gastronomia – minha área de atuação. Todos sabemos que a alimentação é fundamental para o turismo. Nosso trabalho focaliza toda a cadeia do açaí e do cacau. Também temos um outro projeto, sobre Turismo Regenerativo, que será apresentado em abril de 2026. Desde já me coloco à disposição de todos os interessados para aprimorarmos a comunicação entre a universidade e os demais atores do turismo”.

Marcelo Pedroso, Relações Externas Brasil na IATA: “Nós somos comprometidos com a descarbonização. As companhias aéreas associadas à IATA respondem por 80% do transporte aéreo de passageiros. Nosso setor está comprometido com a transição energética. Sabemos das dificuldades a serem superadas para alcançarmos a eletrificação da frota – especialmente em se tratando de rotas de longa distância. Isso, a nosso ver, não irá acontecer antes de 2050.

Quando se fala em hidrogênio, cabe ressaltar que esse combustível pede outro design de aeronave. É um desafio muito grande, porque dependemos da capacidade de entrega de novas aeronaves. Outro complicador é o custo: cerca de 300% a mais em relação ao sistema baseado em combustíveis fósseis. A questão é complicada, mas, parafraseando Ariano Suassuna, prefiro ser um realista esperançoso. Grato ao Walter Teixeira, presidente da Skål Brasil, pelo convite”.

Carolina Negri, presidente-executiva do SINDEPAT: “No momento em que a ONU anuncia o aumento do número de visitantes, os parques temáticos estão atentos para contribuir com a mitigação dos impactos ambientais. O nosso setor tem essa consciência, especialmente as empresas de porte maior. O SINDEPAT elaborou um relatório com o mapeamento da maturidade das atividades do setor. É preciso haver um conjunto de esforços, na direção de um letramento das atividades do nosso setor, com participação de todos os atores envolvidos, inclusive da esfera governamental, na direção do aprimoramento deste ativo do turismo brasileiro”.

Ana Biselli, CEO da Resorts Brasil: “Nós iniciamos essa jornada com um trabalho coletivo há cerca de quatro anos. Constatamos a existência de empreendimentos com nível de maturidade bastante diverso e percebemos a oportunidade de ajudá-los. Basicamente o que a gente tem feito na Resorts Brasil é identificar para onde se quer ir, um horizonte, uma cartilha, um diagnóstico de onde estamos. E criar meios para acelerar as agendas, as pautas de inovação, estreitar relacionamento com o Ministério do Turismo, com a Embratur, na busca de soluções, para apresentar o resultado aos nossos associados.

Há cerca de um ano e meio decidimos direcionar nossos esforços em torno de temas específicos. Ou seja: dois temas de cada eixo do ESG para acelerar de forma coletiva. Apostamos em provocações para os associados se organizarem de maneira coordenada e, nesse ano, percebemos uma grande evolução. Claro que nem sempre no mesmo ritmo e na mesma potência, mas eles começaram a pedir pra gente formas de convencer os investidores de que temos de avançar nessa jornada. Então, passamos a fazer cursos de qualificação nos temas que eles sentiam mais necessidade. Nesse contexto, notamos a importância da união entre a Resorts com outras associações para encontrar respostas e soluções afetas ao ESG”.

Carlos Bernardo, diretor de Operações e A&B no Grupo Accor e vice-presidente da ABIH-SP: “Há uma cisma das empresas de que ações pela sustentabilidade vão custar mais caro. Mas, dentro da ABIH e da Accor, nós temos várias ações voltadas para melhorar a retirada de lixo, mitigar o desperdício de alimentos, redução do consumo de energia, de água. Conclusão: todas as ações pela sustentabilidade não representam gastos – e sim economicidade. As entidades precisam se unir em torno das melhores práticas e difundi-las. E, assim, todo mundo sai ganhando”.

David Schurmann, Voz dos Oceanos: “A gente atua no turismo náutico e fluvial. A Voz dos Oceanos nasceu há quatro anos, da Família Schurmann, que muitos conhecem da televisão, que dá volta ao mundo e tudo mais. Nos últimos 35 anos vimos muitas transformações nos oceanos. Depois de muito estudo e aprendizado, decidimos que devíamos falar com a sociedade civil sobre o que estava acontecendo.

Existem várias ONGs às vezes trabalhando com o governo, a ciência, mas o mundo não sabia da importância dos oceanos como um todo. Até para a nossa sobrevivência. Na COP, desta vez, o oceano começou a ser escutado. E o oceano é o maior regulador de clima do planeta. Há um bom tempo que se fala que o pulmão do mundo são as florestas… Nada contra as florestas, mas o pulmão do mundo, na verdade, é o oceano.

Em quatro anos nós nos tornamos a maior iniciativa brasileira em oceanos falando com a sociedade civil. É preciso amar, ter carinho e respeitar os oceanos. As pessoas falam ‘o oceano é longe’, mas nosso trabalho todo é encontrar soluções. Nós somos navegadores e navegadores têm que ser sonhadores. O navegador é ambíguo: sonhador e realístico. Dar a volta ao mundo é difícil, é um sonho, mas colocamos as cartas náuticas na mesa e chegamos. Assim também os temas ambientais. [A COP] Foi incrível, a despeito de todas as opiniões adversas. O fato é que mais de 65 mil pessoas passaram pela casa da Voz dos Oceanos. Um grande impacto para a população local e para o turismo.

Pra nós, a COP foi uma surpresa maravilhosa. E a receptividade, nem se fala. Nós fizemos um projeto, com a USP e a Embratur, do sul do Brasil até Belém do Pará, sobre o microplástico na costa brasileira. O microplástico acaba se infiltrando em tudo, inclusive na nossa cadeia alimentar. O projeto permitiu analisar a presença de microplástico em frutos do mar (bivalves) e o lançamos na COP. Resultado: 70% dos bivalves estavam contaminados. Logo, a gente está comendo microplástico. Sabemos que 70% da poluição dos oceanos chega pelos rios. E peço: olhem para os oceanos com olhos além das delícias das praias”.

Ao final do evento, o presidente da Skål Brasil, Walter Teixeira, aproveitou para fazer um lembrete. “A entidade tem o seu Prêmio Internacional de Sustentabilidade, que já está na 24ª edição. Buscamos parcerias com todas as organizações dedicadas ao turismo”. Aristides de La Plata Cury, por sua vez, agradeceu a participação de todos e convidou os profissionais do turismo a se tornarem skålegas.

Bruna Dinardi
Author: Bruna Dinardi