quarta-feira, 24 dezembro,2025
No menu items!

Marketing de experiência como estratégia na hotelaria: cases no Brasil e no mundo

*Artigo assinado por Elza Tsumori, diretora da Tsumori Comunicação, conselheira permanente da Associação de Marketing Promocional (AMPRO) e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (cadeira 37)*

Em um mercado no qual conforto, boa localização e eficiência já são pré-requisitos, o verdadeiro diferencial passou a estar na experiência vivida. Não se trata apenas de atender bem, mas de criar vínculos emocionais, gerar memória e transformar o hóspede em um embaixador espontâneo da marca.

O crescimento do marketing de experiência reflete essa mudança de mentalidade. Hotéis deixam de se posicionar como prestadores de serviço e passam a atuar como plataformas de vivência, em que cada detalhe da jornada comunica propósito, valores e identidade.

Retrato de rosto de Elza Tsumori, a autora deste artigo sobre marketing de experiência. Ela é uma mulher de ascendência oriental, com cabelos curtos e escuros levemente ondulados, e sorri suavemente para a câmera. Veste uma blusa preta com decote franzido e usa um colar delicado. Ao fundo, decorações coloridas em formato circular aparecem desfocadas.
Elza Tsumori, profissional com vasta atuação em marketing de destino e projetos culturais, assina este artigo sobre marketing de experiência e sua influência na hotelaria | Crédito: Divulgação

O hóspede como protagonista da marca

Do ponto de vista do planejamento de marketing, a lógica é clara: experiência não é campanha, é estratégia de posicionamento.

Arquitetura, atendimento, tecnologia, gastronomia, sustentabilidade e narrativa precisam operar de forma integrada ao longo de toda a jornada do hóspede — do primeiro contato digital ao pós-checkout.

Quando essa orquestra funciona, o hóspede deixa de ser público e passa a ser coprodutor da marca. Ele vive, registra, compartilha e recomenda.

💡 Experiência não é detalhe. É projeto.

O que os hotéis mais inovadores entenderam: 

  • a experiência precisa ser desenhada com intenção;
  • cada ponto de contato comunica posicionamento;
  • emoção gera lembrança, lembrança gera valor;
  • o hóspede não compra quartos, compra histórias.

Tecnologia que reduz fricção e amplifica hospitalidade

A inteligência artificial e os sistemas digitais ocupam um papel cada vez mais relevante na hotelaria. Mas os projetos mais bem-sucedidos compreenderam algo essencial: tecnologia não substitui hospitalidade; ela a potencializa.

Check-in ágil, concierge digital, comunicação via WhatsApp e automação de processos básicos liberam o time humano para aquilo que realmente faz diferença: empatia, escuta ativa e personalização.

No interior da Inglaterra, o Park Hall Resort & Spa adotou um concierge com IA integrado ao WhatsApp. A tecnologia garante respostas 24/7 para dúvidas e solicitações simples, enquanto a equipe se dedica à criação de experiências memoráveis. O resultado é uma jornada mais fluida, moderna e surpreendentemente humana.

💡 IA na hotelaria: uso inteligente 

A tecnologia funciona melhor quando:

  • resolve tarefas repetitivas;
  • padroniza informações;
  • reduz tempo de espera;
  • libera a equipe para o contato humano (IA como assistente, não como protagonista).

Sustentabilidade como experiência percebida

Fotografia ao entardecer do hotel Fogo Island Inn, no Canadá. O edifício branco, com arquitetura moderna e minimalista, destaca-se em uma costa rochosa e escura. Uma extremidade do prédio é suspensa por estacas altas, projetando-se em direção ao mar. As janelas estão iluminadas, criando um brilho acolhedor contra o céu azul profundo e nublado.
Parte da fachada do Fogo Island Inn, no Canadá, localizado em meio a uma paisagem rochosa e com vista privilegiada para o Oceano Atlântico | Crédito: Divulgação

Sustentabilidade deixou de ser discurso institucional e passou a influenciar diretamente a percepção de valor da marca. Hotéis que integram práticas ESG ao projeto arquitetônico e à operação diária comunicam seus valores sem precisar explicá-los.

No extremo norte do Canadá, o Fogo Island Inn representa um dos exemplos mais sofisticados de sustentabilidade como experiência percebida. Mais do que um hotel, o projeto atua como um motor de regeneração social, cultural e econômica de uma comunidade remota.

A experiência do hóspede inclui o contato direto com a cultura local, a gastronomia baseada em ingredientes do território, o design inspirado em saberes tradicionais e a convivência com moradores da ilha. O impacto positivo da estada é visível, compreensível e compartilhado. No Fogo Island Inn, sustentabilidade deixa de ser conceito abstrato e se transforma em participação real, reforçando o vínculo emocional entre hóspede, lugar e propósito.

Já no Flamingo Lodge, dentro do Everglades National Park, a sustentabilidade aparece como resiliência. Reconstruído com contêineres elevados para resistir a eventos climáticos extremos, o lodge oferece uma experiência de imersão total na natureza, onde arquitetura, propósito e território caminham juntos.

💡 ESG que gera valor

Sustentabilidade como parte da experiência:

  • arquitetura de baixo impacto;
  • reutilização e adaptação de estruturas;
  • experiência baseada em pertencimento e impacto real;
  • alimentação local e sazonal;
  • conexão real com o território (ESG vivido, não apenas comunicado).

Arquitetura como narrativa de marca

Vista panorâmica do Desert Rock Resort ao entardecer. As estruturas arquitetônicas modernas e luxuosas estão integradas e esculpidas diretamente nas encostas de montanhas rochosas em um deserto. O céu está tingido com tons vibrantes de rosa, laranja e roxo, enquanto as luzes internas das suítes brilham suavemente, criando um contraste acolhedor com a pedra bruta.
O Desert Rock Resort, na Arábia Saudita, aposta em uma arquitetura fora do comum e é famoso por proporcionar uma experiência exclusiva aos clientes. Esses atributos, somados ao atendimento exemplar, ajudam a fortalecer a marca do hotel | Crédito: Divulgação

Alguns dos projetos mais marcantes da hotelaria contemporânea transformam a arquitetura em linguagem de marca. O edifício deixa de ser cenário e passa a ser protagonista.

O Desert Rock Resort, no Mar Vermelho, é um exemplo emblemático. Esculpido na montanha, o empreendimento cria uma experiência quase corporal: percurso, textura, temperatura, silêncio. O hóspede não apenas se hospeda, ele habita a paisagem.

Esse tipo de projeto gera um ativo valioso para o marketing: uma experiência impossível de ser replicada em outro lugar.

Japão e Ásia: inovação com sensibilidade cultural

Foto da recepção do Henn na Hotel Tokyo Haneda. Atrás de um balcão moderno com telas de autoatendimento estão três robôs: uma atendente humanoide ao centro e dois dinossauros (um raptor à esquerda e um de pescoço longo à direita). O ambiente é decorado com folhagens e iluminado por luzes azuis, com um painel ao fundo exibindo uma paisagem pré-histórica.
O Henn na Hotel Tokyo Haneda, no Japão, se diferencia pelo uso de IA e automação na recepção. Três robôs dão as boas-vindas aos hóspedes e conduzem o check-in: dois dinossauros e um robô humanoide com aparência feminina | Crédito: Divulgação

Na Ásia, especialmente no Japão, o marketing de experiência assume contornos próprios, equilibrando alta tecnologia com profundo respeito à cultura, ao ritual e ao detalhe.

A rede Henn na Hotel (“Hotel Estranho”, na tradução livre) tornou-se conhecida pelo uso de robôs e IA em recepção e serviços básicos. Mais do que curiosidade tecnológica, o projeto cria uma experiência memorável e coerente com sua identidade futurista.

Em outra abordagem, o Nipponia Hotel Ozu aposta no conceito de hotel disperso, ocupando edificações históricas restauradas. O hóspede vive a cidade, circula pelas ruas, interage com moradores e se conecta à cultura local. É marketing de experiência baseado em autenticidade e regeneração urbana.

Assim, projetos como o Treeful Treehouse, em Okinawa, reforçam a busca por experiências ligadas à natureza, bem-estar e sustentabilidade, transformando a estada em um ritual sensorial e emocional.

💡 Experiência não é padrão global

O que o Japão e a Ásia ensinam:

  • tecnologia pode ser discreta e respeitosa;
  • cultura local é ativo de marca;
  • ritual, silêncio e detalhe também encantam;
  • experiência não precisa ser barulhenta para ser memorável.

Alguns exemplos brasileiros: 4 hotéis que mandam bem no marketing de experiência

O Brasil tem vários exemplos fortes e modernos de hotéis e resorts que abraçam o marketing de experiência, integrando sustentabilidade, design único, cultura local, tecnologia e vivências imersivas. Veja alguns que se destacam por iniciativas que vão além da hospedagem tradicional.

1. Rosewood São Paulo (SP): cultura, design, sustentabilidade e experiência urbana

Vista aérea do complexo Rosewood São Paulo. Em destaque, a "Torre Mata Atlântica", um edifício alto coberto por vegetação exuberante, ao lado de um prédio histórico restaurado com uma piscina no topo. O hotel está inserido em uma densa paisagem urbana, cercado pelos arranha-céus e ruas arborizadas da capital paulista sob um céu claro.
A fachada envolta por um jardim vertical é um dos inúmeros destaques do Rosewood São Paulo, empreendimento cinco-estrelas que mescla design contemporâneo, sustentabilidade e patrimônio histórico | Crédito: Divulgação

O Rosewood São Paulo, inaugurado em 2022 no complexo Cidade Matarazzo, é um exemplo emblemático de como um hotel pode ser um hub de experiência urbana, arte e sustentabilidade integradas. O empreendimento está dentro de um conjunto histórico restaurado, que agora abriga também espaços culturais, lojas e gastronomia.

Por que vale como case: conecta patrimônio histórico, estética contemporânea, cultura local e sustentabilidade em um mesmo fluxo de experiência para o hóspede.

2. Botanique Hotel Experience (MG): experiência imersiva na natureza

Fotografia do Botanique Hotel Experience, ilustrando o conceito de "pós-luxo" e imersão total na natureza. A arquitetura contemporânea-rústica se integra perfeitamente à paisagem das montanhas e aos jardins esculpidos, sugerindo um destino de tranquilidade, silêncio e bem-estar exclusivo.
O Botanique Hotel Experience é um exemplo de como arquitetura, bem-estar e sustentabilidade podem se integrar com maestria e proporcionar uma estada de excelência | Crédito: Divulgação

Localizado nas montanhas da Mantiqueira, o Botanique Hotel Experience é um dos exemplos mais conhecidos de hotel que une luxo experiencial e sustentabilidade em cada detalhe: arquitetura feita com materiais locais e naturais, integração ao território, gastronomia farm-to-table, spa e programas de bem-estar que se estendem à natureza.

Por que vale como case: é um exemplo claro de como a experiência pode ser holística, envolvendo corpo, sentidos e consciência ambiental.

3. Cristalino Lodge (MT): integração com ecologia e educação ambiental

Deck principal do Cristalino Lodge na Amazônia, evidenciando o conceito de luxo sustentável e imersão na selva. A iluminação suave e a arquitetura aberta em madeira convidam ao relaxamento e à observação da natureza. A imagem transmite uma atmosfera de exclusividade e profundo respeito ao meio ambiente.
No Cristalino Lodge a hospitalidade se constrói a partir da imersão na beleza e na riqueza do sul da Amazônia, entregando o máximo de conforto sem abrir mão do cuidado com o meio ambiente | Crédito: Divulgação

No coração da Amazônia, o Cristalino Lodge é um case de tourism ecolodge que une luxo, sustentabilidade e educação ambiental. A arquitetura explora materiais renováveis e soluções que maximizam luz natural; o lodge é alimentado por energia fotovoltaica, usa técnicas de permacultura e possui sistemas de tratamento de água e resíduos com foco em baixo impacto.

Por que vale como case: mostra como experiências autênticas de natureza e educação ambiental podem se tornar parte central da proposta de valor de um empreendimento hoteleiro.

4. UXUA Casa Hotel & Spa (BA): cultura local, gastronomia e identidade

Vista interna da Casa da Árvore do UXUA Casa Hotel & Spa, destacando a arquitetura rústica e sustentável característica de Trancoso. A imagem mostra a integração harmoniosa entre o interior e a natureza externa, utilizando materiais locais como madeira reaproveitada e palha. O ambiente transmite uma sensação de refúgio orgânico, exclusivo e artesanal.
Recorte da Casa da Árvore, uma das categorias de acomodações do UXUA Casa Hotel & Spa, que transforma cultura local, arquitetura e gastronomia em experiências autênticas | Crédito: Divulgação

Em Trancoso, o UXUA Casa Hotel & Spa é um exemplo clássico de como cultura local, gastronomia e experiências autênticas podem ser integradas a um produto hoteleiro de alto padrão. Com casas restauradas, design que respeita materiais e técnicas regionais e uma abordagem forte sobre o uso de ingredientes locais (alimentação, bebidas e iniciativas como o Vida Lab — laboratório de experimentação culinária sustentável), o hotel entrega vivências únicas.

Por que vale como case: demonstra que experiência pode emergir de identidade cultural genuína, participação ativa e cocriação com o hóspede.

Conclusão: menos promessa, mais vivência

O crescimento do marketing de experiência na hotelaria reflete uma mudança definitiva: marcas fortes são aquelas que entregam o que prometem em cada detalhe da jornada.

Hotéis que colocam o hóspede no centro, utilizam tecnologia com inteligência, respeitam o território e criam experiências com significado constroem diferenciação real, desejo e lealdade.

No fim, a pergunta mais estratégica para o marketing hoteleiro continua sendo simples: afinal, qual é a história que o hóspede vai rememorar e contar depois que for embora?

Se você conhece empreendimentos assim, focados em oferecer uma vivência diferenciada, deixe seus comentários! Vou adorar saber!

Bruna Dinardi
Author: Bruna Dinardi