*Artigo assinado por José Roberto Muratori, diretor da Marbie Systems, empresa de consultoria e projetos de automação residencial e predial. Também é criador e gestor do Projeto Conectar*
A aprovação, pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados (CJCC), do projeto de lei que institui a inspeção predial obrigatória marca uma virada importante para o setor da construção e operação de edificações no Brasil. Entre os segmentos diretamente impactados, a hotelaria desponta como um dos que mais poderão se beneficiar dessa nova exigência – desde que adote uma visão técnica e estratégica sobre o tema.
Um novo marco para a manutenção predial
O projeto de lei (PL 6014/2013) determina que todas as edificações públicas e privadas, com exceção das residências unifamiliares, passem por inspeções técnicas periódicas a partir de dez anos da emissão do “habite-se”, com novas inspeções em intervalos regulares. Essas avaliações deverão gerar o Laudo de Inspeção Técnica de Edificação (LITE), documento que atesta o estado de conservação, identifica riscos e recomenda reparos necessários.
Este projeto está tramitando desde 2013 e, agora, com sua aprovação na CJCC em outubro de 2025, a expectativa é que sua implantação efetiva seja acelerada, pois a proposta vai para o Plenário na sequência.
Baseados nesta possível aprovação, em breve, entendemos que é importante que todos os proprietários de imóveis tomem conhecimento do impacto que será causado na área de conservação e manutenção predial. A nosso ver, de toda forma seu conteúdo é muito apropriado e deve ser visto como uma base estruturada e relevante a ser adotada, mesmo antes de se tornar obrigatória.
Para o setor hoteleiro – que lida com ocupação contínua, alta rotatividade de usuários e forte exposição pública – essa norma vai instaurar um novo padrão de responsabilidade técnica e de segurança. Manter a integridade estrutural, elétrica, hidráulica e tecnológica do edifício passará então a ser não apenas uma boa prática, mas um requisito legal.
Retrofit e conectividade: aliados da manutenção inteligente
Hotéis que já investem em retrofit tecnológico e modernização de sistemas prediais terão vantagens claras no cumprimento da nova lei. As tecnologias de automação predial, IoT e conectividade em rede podem atuar como ferramentas de monitoramento contínuo das condições do edifício, reduzindo a dependência de inspeções manuais e antecipando falhas.

Soluções como:
- sensores de temperatura, vibração, vazamento e presença;
- integração com sistemas BMS (Building Management System);
- dashboards de manutenção preditiva e alarmes inteligentes;
- redes cabeadas e sem fio com redundância e controle remoto
permitem registrar dados precisos sobre o desempenho dos sistemas e apoiar o engenheiro responsável na elaboração do laudo técnico.
Além disso, a conectividade adequada garante que todos os subsistemas – ar-condicionado, iluminação, segurança eletrônica, controle de acesso – possam ser monitorados de forma centralizada, otimizando tempo e custos durante o processo de inspeção.
Redução de riscos e valorização patrimonial

A adoção da inspeção predial periódica tende a elevar o padrão de segurança e conservação dos empreendimentos hoteleiros. Estruturas envelhecidas, instalações elétricas sobrecarregadas ou infiltrações recorrentes são problemas que, quando monitorados tecnicamente, reduzem drasticamente o risco de acidentes, interdições e prejuízos de imagem.
Além disso, o hotel que mantém um histórico de inspeções e manutenção documentado tende a aumentar seu valor de mercado e sua confiabilidade junto a investidores, seguradoras e bandeiras internacionais. A norma cria, portanto, um incentivo concreto para a profissionalização da gestão predial hoteleira – aproximando-a dos padrões internacionais de operação e segurança.
Conclusão
A inspeção predial quando se tornar obrigatória vai representar uma mudança estrutural na forma como os hotéis brasileiros deverão gerenciar seus edifícios.
Mais do que uma exigência legal, trata-se de uma oportunidade para evoluir em direção à hotelaria conectada, segura e eficiente, alinhada às melhores práticas internacionais.
A combinação entre retrofit tecnológico, monitoramento contínuo e gestão técnica estruturada será o diferencial dos empreendimentos que desejam não apenas cumprir a legislação, mas também garantir longevidade, economia operacional e confiança dos hóspedes.









